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Quarta-feira, 28 de Agosto de 2024

Esporte paralímpico mudou a vida da ex-Chiquititas Giovanna Boscolo: "Eu me senti pertencente"

Atriz mirim no passado, a biomédica começou a praticar o atletismo paralímpico em outubro de 2023 e vai competir nas provas de arremesso de peso e de club nas Paralimpíadas de Paris 2024

Giovanna Boscolo. Talvez você lembre desse nome por causa da novela infanto-juvenil "Chiquititas", enorme sucesso do SBT entre 2013 e 2015, na qual a então atriz mirim interpretou Michelle. Mas as Paralimpíadas de Paris 2024 vão mostrar que mais que uma Chiquitita, Giovanna é uma atleta de ponta, com muito potencial no atletismo paralímpico. Diagnosticada aos 15 anos com Ataxia de Friedreich, uma doença neurodegenerativa, foi só no ano passado que a atriz e biomédica começou a praticar os arremessos de club e de peso, provas que disputará em Paris. Hoje, Giovanna é medalhista mundial em sua modalidade na classe F32 e conta que o esporte Paralímpico transformou sua vida.

- O esporte paralímpico muda vidas. Foi muito importante para mim, porque eu me senti pertencente. Eu vi que ser deficiente é só um detalhe. Porque a sociedade tem um olhar muito diferente do que nós do movimento temos. Eu acho que essa vitimização me pegava um pouco, mas hoje em dia eu sinto que eu estou bem. Mas eu tenho essa mentalidade por conta do paralímpico, do esporte, da inspiração de ver pessoas com deficiência em tão alto nível, no esporte e na vida. Eu acho isso muito importante, porque é um impulso para pessoas que têm deficiência, que podem ter a mesma questão que a minha. Para mim, o esporte paralímpico foi, assim, um divisor de águas, entendeu? Foi incrível!

Além de ter sido atriz mirim, Giovanna é apaixonada por esportes desde cedo. Ela teve o incentivo dos pais, professores de educação física, para praticar diferentes modalidades. Judô, natação, taekwondo e a grande paixão: ginástica acrobática. Giovanna competia em nível federado e confederado na modalidade em 2014 e 2015 quando seu corpo começou a dar sinais de que algo estava errado.

- O meu diagnóstico veio precocemente por conta do esporte. Eu fazia ginástica e meu técnico começou a identificar alguns tremores e algumas lesões que não eram compatíveis com a minha modalidade. Eu fui fazer o exame neurológico, a eletroneuromiografia, e deu uma alteração de sinal de condição neurológica. E aí foi tudo muito rápido porque a médica que fez meu exame falou: “Acho que isso pode ser indicativo de Ataxia de Friedreich”. Eu fui no médico ele foi muito direto, já pediu exame genético da Ataxia de Friedreich, e aí deu - explicou Giovanna em entrevista ao ge.

A Ataxia de Friedreich é uma doença rara, hereditária e neurodegenerativa. Ela é caracterizada pela falta de coordenação muscular e motora e pela perda de energia do corpo. Para a Giovanna, a Ataxia gera dificuldade na marcha, no equilíbrio, na coordenação fina, descida, subida de escada e tremores. Além de comprometer um pouco a fala, já que a língua também é um músculo. Mas mesmo com um diagnóstico tão difícil, Giovanna tentou se manter positiva.

- Viver com Ataxia é desafiador porque é como se eu acordasse todo dia tendo que aprender de novo como o meu corpo vai funcionar naquele dia - revelou a atleta: - Por ser uma síndrome muito rara, a maioria das pessoas demora muito até chegar no diagnóstico. E para mim foi bem difícil na época, me deparar com um diagnóstico tão complexo. Eu tinha 15 anos, era muito nova. Ainda mais porque o prognóstico da Ataxia de Friedreich não é bom, então eu eu me deparava com coisas na internet muito assustadoras. Mas eu sempre tentei me manter o mais positiva possível. Eu acho que isso me ajudou muito.

A descoberta da doença fez com que os planos de Giovanna tomassem outro caminho. Apaixonada pela área da saúde, a jovem já pensava em seguir uma carreira nesse setor. Depois do diagnóstico, Giovanna decidiu estudar biomedicina, voltada para a genética.

- Eu fui estudar biomedicina pensando na genética, em estudar Ataxia, para buscar entender como funciona a fisiologia do meu corpo, a doença em si, métodos de cura. O que eu poderia fazer para tentar retardar o máximo possível para ajudar não só a mim, como muitos que têm (a doença) no Brasil. Por ser uma doença muito rara, temos menos estudos, então era uma área pela qual eu me identifiquei. Cheguei a atuar na área só em estágio. Fiz estágio em laboratório clínico e no Comitê Paralímpico Brasileiro, na Fisiologia do Esporte.

E mal sabia Giovanna, mas esse estágio no Comitê Paralímpico (CPB) a levaria para um outro caminho: o de atleta. Em outubro de 2023 ela foi convidada para treinar atletismo paralímpico no CPB. Giovanna pratica o arremesso de peso e o arremesso de club, uma espécie de pino de boliche de madeira. Em ambos, fica sentada presa a uma cadeira enquanto arremessa o objeto no campo. O objetivo é lançar o mais longe possível. Alguns meses depois de começar, em fevereiro de 2024, estava se garantindo nos Jogos Paralímpicos de Paris. O que parecia um sonho havia se tornado realidade.

- Eu acho que o momento em que eu realmente acreditei foi quando eu fui pra Dubai esse ano, em fevereiro, na minha primeira competição internacional. Foi muito rápido, porque eu comecei a treinar em outubro. É óbvio que eu já tinha uma bagagem prévia de tudo que eu já treinei e fiz durante a minha vida. Mas foi em Dubai, quando consegui a classificação. E durante a prova do club, quando fiz meu lançamento, eu me senti assim, como se eu estivesse no lugar certo, na hora certa. Eu me senti muito bem, pertencente. Eu até chorei, me emocionei, porque eu vi que, sim, era possível eu chegar e enfrentar tudo que vem pela frente.

 

G1

 

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